a casa laranja

Quando eu era mais nova morei numa casa laranja. Não completamente laranja, mas a fachada era MUITO laranja. Foi a casa que morei mais tempo na vida e é onde tenho as maiores lembranças da minha família. Até hoje quando preciso preencher o cep em algum site é o de lá que eu me lembro. Outro dia conversando com meu marido percebi coisas sobre essa casa que eu nunca tinha me dado conta.. Foi o símbolo de mudança de vida para a criança pobre que eu fui, não porque deixamos de ser pobres, mas foi um ~glow up~ de uma casa completamente decadente com janelas enferrujadas e piso esburacado que a gente não conseguia nem passar pano por causa da terra que saia dele, para uma casa bonita e bem cuidada, toda pintada e com cerâmica. Imagine quão grandioso foi isso para a percepção de uma criança. 

Mas isso não foi o que mais me marcou naquela casa, foram os momentos vividos nela como uma casa que ficava no meio do caminho onde meus amigos sempre tinham passagem e muitos estranhos foram acolhidos pela minha família porque passavam mais necessidades que nós. Foi a casa em que minha família cresceu e também se desfez. Foi onde dei o pontapé para a liberdade quando pensei ter me tornado adulta e me prendi completamente numa emboscada de relacionamento abusivo enquanto sofria com a separação dos meus pais. Foi onde meu coração mais se encheu de alegria em família, mas o lugar também que foi cenário dos piores desastres também.

 Dia desses enquanto orava me deparei com algo que me constrangeu completamente. 10 anos depois de me mudar daquela casa que ainda habita meu coração e imaginário, me percebi sentada de frente a janela encarando um céu lindo, minhas plantinhas e uma parede laranja enquanto agradecia à Deus pela restauração do meu coração e por ter me dado uma família. Eu não tinha percebido até aquele momento que minha casa nova(me mudei há poucos meses), cenário da minha descoberta de realização do sonho de construir uma família (estamos esperando nossa primeira filha), uma parede laranja, como se o Senhor me trouxesse à memória de dor, e de tantas outras coisas, para me dar esperança, por que Ele faz novas todas as coisas e se importa com os detalhes. Eu quase consigo ouvir Ele me dizendo "você se sentia em casa com essa lembrança de dor, minha filha, agora você pode ver com alegria esse símbolo de casa com a família que Eu tenho para você agora". Eu não preciso me prender mais àquela casa, apesar dela continuar sendo parte tão importante das minhas memórias, mas tenho agora (mais) um sinal, que eu nem sabia que precisava do cuidado de Deus. 

"Esqueçam o que se foi; não vivam no passado.
Vejam, estou fazendo uma coisa nova! Ela já está surgindo! Vocês não o percebem? Até no deserto vou abrir um caminho e riachos no ermo.
Isaías 43:18,19

Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar.
Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim.
Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança:
Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis.
Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade!

Lamentações 3:19-23

Com amor, Lua.