Rotina

Nós nascemos praticamente juntos, éramos como irmãos. Eu não tinha muitos amigos quando criança e ele também, moramos em cidades diferentes por vários anos e anciavamos pelas viagens de férias só pra nos encontrarmos. Ele cuidava de mim como se eu fosse de porcelana e eu o via quase como um super-herói.
Eu tenho um amor incomum pelas estrelas e pelo céu, e me lembro de chamá-lo pra ficar deitado na grama comigo procurando formas que as estrelas formavam pelo menos na minha imaginação e de puxá-lo pra janela quando todos dormiam só pra ficar olhando as estrelas porque eu sentia paz, ao lado dele e ao ver as estrelas.

Eu compartilhava cada sonho meu, e ele cada parte dos seus planos, nós contávamos um ao outro nossos medos, nossos sonhos, nossos devaneios de criança. Nós eramos verdadeiramente melhores amigos, era quase impossível pensar em um sem pensar no outro.

Mas ele cresceu.

Uma bela noite de virada de ano numa festa de família, ele me chega dizendo que tem uma surpresa, que estava apaixonado e que eu a amaria. Era o início do nosso fim. Admito que não fui receptiva, nem me dei o trabalho de cumprimentá-la porque a minha raiva era maior do que qualquer outro sentimento na hora, mas não me opus a ele em momento algum, afinal a vida é dele.

Mas ele mudou. Depois disso o menino de sorriso estampado no rosto que ele era desapareceu, dando lugar ao 'homem' furioso e  de lágrimas fáceis. Ele deixou de ser o 'irmão-melhor-amigo' e virou o desconhecido que não consegue me olhar nos olhos, o que eu conhecia tão bem a ponto de ver a alma através do sorriso ou do olhar, hoje ele não passa de um estranho.

Sabe quando você tem uma história com alguém e parece que você está lutando sozinha pra que tudo fique bem? Isso tá virando rotina. Eu lutei com todas as minhas forças porque prezo por quem amo, mas chega uma hora que é preciso analisar as situações, as forças acabam e você percebe que as vezes não vale a pena..



Luana Farias

Cá estou mais uma vez, cansada e abrindo as profundezes do meu coração..