Dia 11


Então é dia 11 de maio e eu consigo me lembrar perfeitamente o terror de exatamente um ano atrás.
Peço desculpas pelo ar pesado essa semana, mas está realmente sendo difícil pra mim.

Eu atendi o telefone à quase meia noite e ouvi um amigo dizer “sabe o...” e o meu mundo caiu.

Então ele se foi e a vida fez um buraco enorme em mim que me faz embrulhar o estômago até hoje ao passar pela avenida Hélio Prates às 4 da tarde e sentir o cheiro de café que senti no momento em que estávamos lá, aos prantos vendo o que foram um dia pessoas que nós tanto amamos.

Eu nunca conheci alguém com um coração como o do Arthur, o boy, o tuti, tutu, tutuca do pai, o pensador, o amor em pessoa. Que tinha aquele sorriso sempre no rosto, os olhos que sorriam junto.
 Aquele tom de verde quase folha seca que eram sem iguais.
Aquele que me recebeu de braços abertos quando cheguei em Brasília e me fez querer ir para a igreja e voltar para o louvor. E nós louvamos muitos anos juntos, quando ele era gordo e usava aquele cabelo engraçado combinando com o do melhor amigo dele. Ele era demais.

Nunca vou me esquecer do dia em que perguntei para ele sobre Deus e ele me disse “Lulu, não quero conversar sobre isso com você agora, você é importante demais para a gente ficar sem se falar”.
Ele tinha saído da igreja, passava por um tempo que não acreditava em Deus e brigava com qualquer um que tentasse convencer ele do contrário. Ele me mostrou amor até nisso. Mas quando teve sua opinião mais firmada da crença de algo não teve problemas em me explicar e mostrar com carinho como funcionava a fé dele e em que ela se baseava, sem me ofender, afrontar ou duvidar da minha, ele me explicou com amor, porque sabia que eu me importava com ele, com seu espírito e com a sua felicidade. Quem era eu pra julgar a forma dele encontrar Deus? 

Nunca vou esquecer também do dia em que eu surtei e as únicas pessoas que conseguiram chegar perto de mim foram ele e o Isra, então em meio ao meu choro ele me abraçou forte e disse com calma e um sorriso no rosto “Lulu, você é tão forte. Mais forte é o que está em você, não precisa ficar assim” e o meu coração se acalmou. Ele era uma das únicas pessoas na vida que me chamam de “Lulu” e eu sempre vi isso como um cuidado de irmão. Ele era exatamente isso. Meu irmão, nascido de outra mãe e como uma pessoa totalmente diferente de mim, mas era meu irmão e toda a nossa família soube disso desde sempre.

Nós nos afastamos muito nos últimos anos, nos víamos raras vezes nos últimos tempos e não dedicávamos mais tempo um para o outro, mas a vida é assim não é? Ela leva a gente para caminhos diferentes e a gente percebe que os verdadeiros continuam com o mesmo amor de sempre. Era assim com a gente. Não importava quanto tempo passasse, nós permanecíamos irmãos. Com o mesmo amor e cuidado. 

Exitem duas palavras que descrevem o que sinto hoje pelo Tuti, a primeira é gratidão. Gratidão por Deus ter dado a mim (e a quem teve a sorte de conhecê-lo) a oportunidade de conhecer alguém tão incrível quanto ele e ter passado tanta coisa linda com ele.
A segunda é saudade. Essa que vai estar sempre aqui apertando vez ou outra pela sua falta, mas lembrando também o quanto foi bom ter vivido um pouco com ele.

Com muito amor, muita dor e saudade também, Lua.

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