Diário 1 - Regional.


Não tenho sabido muito bem escolher as palavras para dizer de forma clara o que quero dizer, mas vou me esforçar para fazer o melhor.

Tenho dito muito sobre saudade, por que na verdade a minha mente tem girado muito em torno disso. Estar fora de casa para tanto tempo e tanta distância dá um turbilhão de sentimentos estranhos e que particularmente não me acostumei ainda.
Nós sabíamos que eu não ficaria muito tempo em casa e isso era claro, mas quando você se depara com a realidade com a qual você sonhou os sentimentos mudam, não que perca a graça ou o encanto, muito longe disso, mas você começa a ver de um ângulo diferente e sentir de forma diferente as coisas.

Estar longe de casa me fez perceber o quanto eu amo viver e despertou ainda mais valor sobre a minha família, amigos, igreja, trabalho e até mesmo das coisas que simplesmente não importam. Mas uma das maiores descobertas é que eu gosto de mim, de ser quem eu sou e eu nunca tinha me dado conta disso. Chegando aqui me deparei com realidades e estilos de vidas muito diferentes dos meus, moro com pessoas de cada canto do Brasil e cada uma tem suas particularidades visíveis, o modo de falar, o sotaque, o modo de pensar e de ver a vida (acreditem, cada região tem uma identidade bem definida), daí entra no meio dessas pessoas tão diferentes e cheias de personalidade a minha pessoa. Parei então para prestar atenção em quem eu era no meio disso e na verdade ainda não sei responder esse questionamento, mas percebi que gosto de ser quem eu sou até agora. Gosto de ser do centro-oeste e carregar uma cultura sertaneja que eu nem sabia que tinha, gosto de falar como ceilandense, gosto de no lugar de sotaque falar gíria como boa "brasíliense", gosto de gostar de sertanejo e das coisas simples do MT, Goiás e Minas, gosto de ter família nordestina, o que me faz ter uma convivência bem familiar com o lugar em que eu moro agora, gosto de ter tido uma criação sem muitas regalias, o que me ajuda a aceitar melhor a vida regrada que se tem em missões, gosto de ter trabalhado desde cedo e saber dar valor a cada centavo que chega à minha mão, gosto até das minhas raízes assembleianas que hoje vejo me darem base para crer e aceitar o sobrenatural gosto de conhecer e viver novas culturas e que mesmo gostando isso não é fácil porque na verdade sou muito resistente à mudanças e novidades, o novo me assusta, mas me atrai na mesma proporção. Gosto de ter meu jeito de pensar sobre as coisas, mas gosto também de saber o ponto de vista das pessoas e saber que a minha verdade não é a única, mesmo eu sendo cabeça dura e sempre querendo ter razão, porque eu sou assim mesmo, mas estou aprendendo a lidar melhor com isso. Gosto do jeito que eu me visto e de como isso faz parte de mim, gosto de me maquiar e de maquiar os outros e que isso é uma das coisas que me satisfazem pessoalmente. gosto de poder fotografar tudo e guardar cada momento que eu vivo em imagens, gosto de ser quem eu sou e de ser transformada no que Deus quer que eu seja.
Gosto de pensar que eu tenho 21 anos e já tenho histórias para contar para os meus filhos e netos.
Eu nunca pensei que diria isso, mas eu gosto de ser quem eu sou.

Quando estava nos últimos meses da minha antiga vida meu tio disse uma frase que na hora me doeu bastante, ele disse "quem sabe lá você se encontra", me senti no primeiro momento totalmente ofendida, como assim ele quer dizer que eu não sei quem eu sou?? Mas ele tinha razão pensando bem, claro que estou longe de me encontrar, mas estou um pouco mais perto do que estava ontem e isso me alegra porque estou realmente me encontrando, não pelo lugar, mas porque eu estou literalmente vivendo.

Eu gosto de viver.
Lua.

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