Quando encontrei meus pais


Minha impaciência de moleque, recentemente abandonada junto com as roupas rasgadas, deram lugar a uma vontade crescente de ter meus pais por perto, cada vez mais e mais. Acho que no meio dos ataques hormonais, da fúria de adolescente, quando eu pedia internamente que meus pais fossem embora, não havia espaço para entender que um dia eles certamente iriam. Eles ainda irão. Nesse dia, se apagará um pedaço de luz no meu olhar, como o lumiar do cômodo de uma casinha. Alguém partiu de nós.
Ao contrário de todo o meu relutar para cair no mundo, para ser dono de minhas escolhas, agora que nos encontramos, percebo que só há descanso lá, no sofá da minha mãe, na cadeira do meu pai, sob seus olhares delicados que me amam cuidadosamente. Depois de conhecer o mundo a gente percebe o quanto é raro ter alguém de quem não precisemos nos defender, alguém em quem confiar nosso fechar de olhos, alguém que trocaria a própria paz pela nossa.
Quando finalmente encontrei meus pais, notei que passei tanto tempo tentando descobrir quem era eu mesmo, crescendo, que nem lembrei de conhecê-los. Foi uma surpresa ouvir as histórias, entendendo que aquelas passagens de alguma forma, também eram minhas. A paixão do meu pai pelo cinema quando garoto, a intensidade da minha mãe como atriz, suas perdas, seus amores. Precisei encontrá-los no meio do caminho para perceber que eles provavelmente eram as pessoas mais fascinantes que conheceria nessa vida.
Me toca pensar que em alguns anos, meus pais serão pra mim como a criança que eu já fui pra eles. Que precisarão de comida na boca, horário de banho e alguém pra pentear seus cabelos enquanto conversam sobre o dia. Um dia eu cuidarei de devolver à luz, delicadamente, meus pais. Me dei conta disso quando nos encontramos, solenemente no meio do caminho da vida, três adultos afinal.
Diego Engenho Novo - Palavra Crônica

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