Sobre paternidade na igreja


Já tem um tempo que venho pensando sobre paternidade, na igreja para ser mais exata. Provavelmente minha crise foi desencadeada quando um pastor que veio nos dar aula no seminário e comentou sobre um livro que falava sobre a dificuldade de amar filhos espirituais adotivos, que assim como na paternidade natural existe diferença entre filhos biológicos e adotivos há também com filhos espirituais vindos de outras denominações.

Isso não é algo unânime, nem uma verdade absoluta, apenas a observação de um ponto de vista defendido por um autor, que fique claro.

Mas isso mexeu comigo.

Olhando para mim no seminário me senti a filha adotiva que não pertencia à família, não ao menos ainda, e comecei a reparar não apenas o momento vivido no agora, mas na minha história com a igreja.

Para situar melhor meu quadro com a, até então, nova igreja, eu era a única que não fazia parte da denominação a muito tempo, na verdade acabei fazendo parte da igreja por causa do seminário, mas antes disso nem conhecia a visão. Foi bem difícil. E os meus colegas de seminários vieram todos de longos anos pertencendo a denominação que se movia com discipulado e pastoreio de perto.

Quando ouvi sobre a dificuldade de amar filhos adotivos fiquei me sentindo literalmente órfã no meio da igreja. Eu olhava para os meus colegas e como cada um tinha sido ganhado por alguém para Jesus, via como eles tinham sido cuidados por essas pessoas e que cada um tinha um referencial de homem ou mulher de Deus para se espelhar que os ajudaria a caminhar. Isso era absurdo pra mim. Me converti aos 6 anos ouvindo um sermão e orei sozinha abraçada nas pernas da minha mãe chorando, depois disso nunca mais parei de ir à igreja.

Desde os 6 anos até a fase adulta (mesmo que não tão adulta assim), passando pela adolescência indo a congressos e cultos tanto quanto podia, pois a alegria estava em buscar um Deus tão grandioso que eu nem conseguia imaginar a minha vida longe disso, parando agora para vasculhar minhas memórias e perceber que nunca houve alguém para segurar a minha mão e me ajudar nas fraquezas.

Eu tive a sorte de crescer num lar cristão e receber instrução segundo a Bíblia, mas não foi fácil. Também não foi fácil perceber que sobrevivi a tantas coisas na vida da igreja que outras pessoas certamente não permaneceriam. Então neste momento estando a milhares de quilômetros de distância de casa, dos meus pais biológicos e de qualquer coisa que soasse familiar a não ser a mesma vontade de buscar a Deus, entrei numa crise sobre não ser amada e cuidada como filha por alguém na igreja.

Não posso prever como isso chega ao seu coração, afinal não conheço seu histórico dentro ou fora da igreja, se pertence ao discipulado, se nunca conheceu ou se tem aversão a ele, mas posso dizer que o Senhor é misericordioso e trata a cada um de nós com zelo particular. Digo isso de coração já curado dessa crise, que agora me parece um tanto ridícula, mas que me acertou com tanta força quando não me sentia amada pelas pessoas que deveriam ser a minha família no momento, mas entendo agora que a criação (no sentido de história, de como fomos inseridos no corpo de Cristo e como nos tornamos crentes maduros), dá base para quem nós somos e para o que podemos ser.

Eu precisava ter crescido sozinha na igreja mesmo passando por crises e me perdendo às vezes nelas para me tornar o que eu sou hoje e para me dar um alicerce para o que ainda vou ser e fazer na vida com Deus e com as pessoas ao meu redor. Levando em consideração o meu temperamento, talvez se houvesse um discipulado que me fizesse sentir segurança em uma pessoa meu desenvolvimento e anseio por encontrar as respostas em Deus nunca, ou tardiamente fariam parte da minha vida. As dificuldades que passei  foram necessárias para me fazer mais forte e capaz de ajudar outras pessoas a passarem por suas dificuldades.

Ou talvez me fizesse ter mais facilidade em confiar, em Deus e nas pessoas, pois um referencial disso pode mudar a vida.

Não estou falando contra o discipulado, muito pelo contrário. Volto a dizer sobre como o Senhor é misericordioso e nos trata com zelo particular. Assim como eu tive a graça de crescer sozinha outras pessoas são agraciadas por terem alguém para abraçar e ajudar na caminhada, isso é tão maravilhoso quanto.

O que quero dizer com tudo isso é que não importa a forma como você foi criado na igreja, ou na família. O Senhor é soberano e prepara tudo de certa forma para nos ensinar algo. Se temos um referencial ou não o que muda em nós é como usamos isso. Se você tem um exemplo, siga! E valorize! Se tem um exemplo a não seguir, você tem um modelo de como não fazer, então não repita os erros, seja diferente para consigo mesmo e para com os outros! E se você não tem um exemplo, tenha consciência de que seu referencial não é físico, mas está com você em todo tempo. Sinta-se privilegiado, pois é o próprio Deus quem cuida de você independente das pessoas. Além disso Jesus está aí mostrando nos evangelhos como é o Pai e como podemos nos relacionar com Ele.

Existe um Pai que nos ama e cuida de nós. 


O pai me adotou
Seu amor me encontrou
Eu era órfão
Hoje sou filho

Meu pai me ama
E eu sou dele pra sempre
Meu pai me ama
E eu sou dele pra sempre
E nada vai me separar do seu grande amor



Me conta aí como foi sua história na igreja, eu vou realmente amar saber!
Com amor, Lua.

Comentários

  1. Belo texto.
    O problema da igreja cristã moderna é que ela se divide entre si. Somos todos filhos, que anda em obediência ao Pai onisciente. Tem sempre alguém achando que é ''mais filho'' que outros (ai está a separação!). Quando andamos no centro da vontade dEle deixamos nosso 'saber' de lado e vivemos a vontade dEle!!! Simples assim! Como Cristo nos veria???

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    1. (Na minha opinião)Provavelmente nos veria como filhos com ciúmes brigando por atenção, dizendo uns aos outros com todos os argumentos porque um seria mais amado que o outro. Eu consigo visualizar a cena de crianças brigando e o Pai olhando, talvez esperando a briga sem motivo acabar, talvez rindo com bom humor por saber que aquilo é porque os filhos o amam, mas sabendo que acima de qualquer coisa Ele continua sendo Pai de todos eles e os amando da mesma forma. Nosso entendimento é pequeno demais, por isso acho bem válido olhar pra nós como crianças, e assim como as crianças crescem e amadurecem acredito que acontece conosco também, bom, ao menos para quem procura isso e se deixa ter a mente renovada por Deus, e como o Senhor vê muito além de nós, mesmo que como crianças Ele sabe como tratar cada um.

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